“Prefiro morrer a ser escravizada novamente.”
Essa frase é inspirada em sua decisão final: quando foi capturada, Dandara escolheu tirar a própria vida para não retornar à escravidão, um ato de extrema coragem e resistência.
Dandara dos Palmares foi uma mulher negra, guerreira e estrategista que viveu no século XVII e lutou incansavelmente contra a escravidão no Brasil. Ela é uma das figuras mais emblemáticas da resistência negra, tendo desempenhado um papel fundamental no Quilombo dos Palmares — a maior comunidade de pessoas negras livres da história do Brasil colonial.
Não se sabe ao certo se Dandara nasceu no Brasil ou foi trazida da África. No entanto, os registros históricos indicam que desde muito jovem ela viveu no Quilombo dos Palmares, localizado na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. Palmares era formado por diversos povoados chamados "mocambos" e chegou a abrigar mais de 20 mil habitantes, incluindo negros fugidos da escravidão, indígenas e até brancos pobres.Dandara cresceu nesse ambiente de luta, liberdade e autossuficiência. Ela aprendeu a caçar, cultivar a terra, lutar com armas e participar da organização coletiva. Era também uma mãe, companheira de Zumbi dos Palmares, e juntos tiveram filhos. Mas, acima de tudo, foi uma líder política e militar, que participou ativamente na defesa do quilombo contra as constantes investidas dos colonizadores portugueses e bandeirantes.
Dandara não era uma figura passiva ou apenas uma coadjuvante na luta de Zumbi. Ela tinha posições políticas firmes e defendia a liberdade total para todos os negros, não aceitando acordos que legalizassem a escravidão em outras regiões. Em 1678, quando Ganga Zumba (então líder de Palmares) tentou assinar um tratado de paz com o governo colonial — que previa a liberdade apenas dos negros que viviam no quilombo — Dandara foi contra. Ela compreendia que esse acordo colocaria em risco o ideal maior de liberdade plena e permanente. Além da luta física, Dandara também participou da organização social e econômica do quilombo. Palmares era autossustentável, com agricultura, comércio e práticas de solidariedade coletiva. Era, de certa forma, um exemplo de sociedade alternativa à opressão colonial.
Em 1694, após sucessivas campanhas militares portuguesas, o Quilombo dos Palmares foi destruído pelo exército comandado por Domingos Jorge Velho. Muitos quilombolas foram mortos ou capturados. Dandara, diante da iminência de ser presa e escravizada novamente, optou por tirar a própria vida em 6 de fevereiro de 1694. Sua morte foi um ato final de resistência e dignidade. Apesar da escassez de documentos históricos, sua memória sobreviveu graças à tradição oral, à cultura afro-brasileira e às pesquisas contemporâneas que buscam resgatar a história de mulheres negras apagadas pelo tempo.
Hoje, Dandara dos Palmares é reconhecida como um símbolo da luta antirracista, do feminismo negro e da resistência contra todas as formas de opressão. Sua trajetória inspira movimentos sociais, escolas, coletivos e lideranças negras que buscam justiça, liberdade e reparação histórica. Ela representa a força da mulher negra que resiste, lidera, cuida e transforma.